Tungíase atinge 98,3% dos municípios do Ceará

Estudo inédito da UFC revela alta incidência e falta de programas de controle do bicho-de-pé no estado.

Da Redação
07/08/24 • 15h06

Um estudo pioneiro da Universidade Federal do Ceará (UFC) revelou que 98,3% dos municípios do Ceará já registraram casos de tungíase, popularmente conhecida como bicho-de-pé. Realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFC, este é o primeiro estudo sistemático no mundo a investigar a ocorrência da doença em uma área geográfica tão ampla.

A pesquisa utilizou um método de avaliação rápida, baseado em um questionário online aberto para profissionais de saúde e agentes envolvidos, que permitiu coletar dados sobre a incidência do bicho-de-pé em 181 dos 184 municípios do estado. Apenas Iracema, Lavras da Mangabeira e Várzea Alegre não relataram casos, mas os pesquisadores acreditam que a tungíase está presente em todos os municípios do Ceará devido à escassez de dados nesses locais.

Os municípios costeiros do Ceará, incluindo Fortaleza, são os mais afetados. Na capital, bairros como Praia do Futuro e Vicente Pinzón têm a maior incidência da doença. A tungíase está associada a condições de vida precárias, sendo mais comum em comunidades pobres.

A infestação severa com o bicho-de-pé pode levar a complicações graves, como infecções bacterianas que podem resultar em tétano, ulcerações, deformações dos dedos, amputações, perdas de unhas, lesões nas nádegas, dificuldades de locomoção, internações e até mortes.

Apesar da alta incidência, o Ceará não possui programas específicos para o controle da tungíase. “O único estado do Brasil com um programa de controle, até onde sei, é o Rio Grande do Sul”, afirma o Prof. Jorg Heukelbach, coordenador da pesquisa. Ele destaca a necessidade de um programa de saúde integrado e multidisciplinar, que inclua melhorias nas condições de moradia, saúde, cuidado com animais domésticos e conscientização sobre comportamentos de risco.