
Pesquisa aponta aumento de cursos de especialização médica a distância e preocupa entidades
Estudo indica impacto negativo na qualidade de formação dos profissionais de saúde.
Da Redação
17/09/24 • 11h20

A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e a Associação Médica Brasileira (AMB) divulgaram um recorte da pesquisa “Demografia Médica no Brasil 2025”, revelando dados preocupantes sobre os cursos de especialização médica. Segundo o levantamento, 41,2% dos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu (PGLS) em medicina no Brasil são oferecidos inteiramente a distância, enquanto 11,1% funcionam em regime semipresencial. Esses dados levantaram preocupações sobre a qualidade da formação médica no país.
Os pesquisadores analisaram 2.148 cursos de PGLS oferecidos por 373 instituições. Cursos totalmente a distância são mais curtos, com uma média de 9,7 meses, em comparação com os presenciais, que duram 15,4 meses. A maior concentração de cursos a distância está nas instituições privadas (90%) e na região Sudeste, especialmente em São Paulo (32,8%).
Entidades médicas alertam que o aumento da oferta desses cursos pode gerar uma percepção equivocada de especialização, uma vez que, no Brasil, o título de especialista só pode ser concedido a quem conclui a Residência Médica (RM) ou obtém o título por meio de sociedades de especialidades, filiadas à AMB. Cursos de PGLS, embora importantes, não possuem a mesma exigência e podem custar até R$ 30 mil.
O Dr. Mário Scheffer, coordenador da pesquisa, aponta a abertura desenfreada de escolas médicas sem o aumento proporcional de vagas em residências como um dos principais fatores para o crescimento desses cursos. Ele defende uma regulamentação mais rigorosa e a ampliação das vagas de residência.
O levantamento também mostrou que muitos cursos de PGLS utilizam nomenclaturas semelhantes às das especialidades médicas reconhecidas, o que pode confundir médicos, empregadores e a sociedade. Estima-se que, em 2024, cerca de 200 mil médicos no Brasil não possuíam título de especialista.
O setor de educação médica também é caracterizado como um grande negócio, com a maioria dos cursos concentrados em conglomerados privados que operam diversos serviços, como escolas médicas, preparatórios para residência e plataformas digitais. Isso gera uma desconexão com as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), já que muitos desses cursos são voltados para áreas mais lucrativas, como estética e emagrecimento, enquanto áreas de saúde pública, como a saúde mental, necessitam de mais investimento.
Diante dessa situação, o presidente da AMB, Dr. Cesar Eduardo Fernandes, defende a criação de um exame de proficiência para garantir que apenas profissionais devidamente qualificados atuem como especialistas. Ele enfatiza a importância de uma formação prática sólida, essencial para garantir um atendimento de qualidade à população.