
Entenda a tentativa de golpe militar que ocorreu na Bolívia
O palácio presidencial foi invadido nesta quarta-feira (26). Especialistas afirmam que foi um ato isolado do general Zúñiga?
Da Redação
27/06/24 • 09h45

Tanques e soldados do Exército invadiram a entrada do palácio presidencial em La Paz, na Bolívia, na quarta-feira (26). O episódio remete às décadas de 1960 e 1970, quando ditaduras militares se espalharam pela América do Sul. No entanto, especialistas em Relações Internacionais explicam que a tentativa de golpe foi um ato isolado do general Juan José Zúñiga, que foi demitido no dia anterior após ameaçar o ex-presidente Evo Morales.
“O general cometeu um erro de cálculo político ao achar que receberia apoio ao ameaçar Evo Morales. Sem apoio, tentou o golpe de forma improvisada, sem envolvimento de outras lideranças das Forças Armadas ou apoio significativo de grupos sociais”, explica Maurício Santoro, cientista político. Após o incidente, o presidente Luis Arce pediu união da sociedade boliviana contra o golpe. Líderes opositores, como Jeanine Añez e Luís Camacho, também se posicionaram contra a tentativa de golpe.
O general Zúñiga foi preso após liderar a tentativa de golpe. A situação econômica difícil da Bolívia, com problemas no setor de gás natural e reservas internacionais reduzidas, agrava a crise. “A Bolívia enfrenta dificuldades para importar produtos básicos, como alimentos e remédios”, afirma Santoro. Conflitos políticos e disputas pelo controle dos recursos naturais também contribuem para a instabilidade.
“O componente político da crise inclui as eleições presidenciais do próximo ano. O general que tentou o golpe disse que as Forças Armadas interviriam se Evo Morales se candidatasse. A crise política de 2019, que terminou com a deposição de Evo e intervenção militar, ainda é uma ferida aberta”, diz Santoro. Arthur Murta, professor de Relações Internacionais, destaca que a chegada de Evo ao poder em 2006 gerou fraturas de poder e insatisfações com a elite, agravando a instabilidade democrática.
Os pesquisadores também consideram o contexto regional na América do Sul, com o avanço de grupos autoritários e tentativas de golpe fracassadas em outros países. “A tentativa de golpe faz parte de uma crise democrática mais ampla na América Latina. A resposta internacional foi rápida e contundente na defesa da democracia boliviana, com manifestações de apoio de vários países sul-americanos e da Organização dos Estados Americanos”, conclui Santoro.