
Agravamento das mudanças climáticas pode levar ao aumento da fome, alerta ONU
Estudo aponta agravamento da crise alimentar devido a fatores econômicos e climáticos.
Da Redação
07/08/24 • 10h38

O relatório “O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo”, elaborado por cinco agências da ONU, revelou que em 2023, 2,33 bilhões de pessoas enfrentaram insegurança alimentar moderada ou grave, enquanto 733 milhões passaram fome. O estudo destaca que a insegurança alimentar e a má nutrição estão piorando devido a fatores como inflação dos preços dos alimentos, desaceleração econômica, desigualdade, dietas inacessíveis e mudanças climáticas.
No Brasil, o Atlas Global de Política de Doação de Alimentos aponta que 61,3 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar, representando quase um quarto da população.
Lisa Moon, CEO da The Global FoodBanking Network, destacou em entrevista à Agência Brasil durante o seminário “Sistemas Alimentares: Oportunidades para Combater a Fome e o Desperdício no Brasil” que, desde 2019, a fome e a insegurança alimentar aumentaram globalmente. “Pensávamos que, com o fim da pandemia de Covid-19, esses números diminuiriam, mas a guerra na Ucrânia, mudanças climáticas e superinflação mantiveram os números elevados”, afirmou Lisa.
O seminário, realizado pelo Sesc e The Global FoodBanking Network no Sesc Belenzinho, em São Paulo, marcou o início das comemorações dos 30 anos do programa Sesc Mesa Brasil. Cláudia Roseno, gerente de assistência do Sesc, destacou a importância de discutir mudanças climáticas, desperdícios e fome, buscando novos caminhos para mitigar os efeitos severos da insegurança alimentar.
Impacto das Mudanças Climáticas
Cláudia Roseno destacou que as mudanças climáticas afetam a produção e distribuição de alimentos, mencionando as enchentes no Rio Grande do Sul como exemplo recente que impactou a agricultura familiar e a produção de arroz, afetando o abastecimento no país.
Lisa Moon observou que as comunidades mais afetadas pelas mudanças climáticas são também as mais impactadas pela fome. “Vemos taxas mais elevadas de fome crônica em comunidades afetadas pelas mudanças climáticas. Nosso sistema alimentar produz alimentos suficientes, mas descartamos cerca de um terço, agravando as emissões de gases de efeito estufa”, disse.
Carlos Portugal Gouvêa, professor de Direito na USP e visitante na Harvard Law School, destacou a relação entre desperdício de alimentos e pecuária. “O Brasil, como um dos maiores produtores de carne do mundo, enfrenta altos níveis de desperdício na produção de carne, que contribui significativamente para as emissões de gases de efeito estufa”, afirmou.
Soluções e Ações Necessárias
Para enfrentar a fome e os impactos das mudanças climáticas, são necessárias ações urgentes e esforços coletivos. Cláudia Roseno enfatizou a importância de reunir pesquisadores, governos, sociedade civil e iniciativas como o Sesc Mesa Brasil para discutir o problema e encontrar soluções.
Lisa Moon ressaltou a importância do apoio aos bancos de alimentos para reduzir a fome, destacando a necessidade de proteção de responsabilidade para doadores de alimentos, incentivos fiscais, rotulagem de validade clara e investimentos no terceiro setor.
Carlos Portugal Gouvêa destacou a importância de políticas públicas eficientes e assistência social direcionada para enfrentar a fome. “Não adianta ter uma boa política pública se ela não chega a quem mais necessita. Precisamos de pessoas que vão onde a pobreza está e usam o aparato estatal para dar uma resposta específica”, disse.